Utopias, paradigmas, narrativas
Quando eu nasci, em 1943, eram oferecidas três narrativas (utopias) aos seres humanos para que delas escolhessem uma: “a narrativa fascista, a narrativa comunista e a narrativa liberal.” Em 1968, restavam apenas duas: a utopia comunista e a utopia liberal, já que a narrativa fascista havia sido destruída pela segunda guerra mundial. E, mais à frente, em 1998, com o desmantelamento da URSS, uma única narrativa sobreviveu: a Utopia liberal. Muitos aplaudiram e se deram por satisfeitos. Mas, em 2008 foram necessárias pesadas intervenções estatais para salvar o mercado financeiro internacional. Constatou-se, como comentou, naquela ocasião, um famoso ganhador do prêmio Nobel de Economia, que “se deixarmos o Mercado sozinho, ele pula pela janela” E, efetivamente, em 2018, após a vergonhosa crise de Wall Street, chegamos ao fim da Utopia liberal. Portanto, das utopias existentes em 1938, nada restou. Felizmente é possível observar a emergência recente de elementos de uma utopia nova: o Paradigma do Cuidado, necessário para dar conta do Coronavírus e sustentado no reconhecimento da alteridade, reconhecimento que tem na empatia natural dos homens sua raiz mais profunda. Como diz o filósofo Bernardo Toro, “precisamos deixar de ser uma sociedade orientada somente pelo êxito, pelo vencer, pelo ganhar. Nosso novo paradigma precisa ser o Cuidado. Saber cuidar, saber fazer transações ganha/ganha e saber conversar. Não mais uma inteligência guerreira, mas sim uma inteligência altruísta.” Solidária e cooperativa, onde como sintetizou Leonardo Boff, “quem ama, cuida e quem cuida, ama”. (Fernando Ribeiro de Gusmão)