Ah, o eterno dilema dos sonhos que se desmancham no ar, como fumaça de cigarro num bar enfumaçado. Vendo alguns parentes, amigos ou colegas que, ainda hoje, insistem em defender e justificar o comportamento do PT, de Lula e sua turma, fico aqui, coçando a cabeça, tentando decifrar esse fenômeno tão estranho, senão bizarro.
Penso, assim:
Para muitas pessoas, inclusive para mim, o PT, lá nos idos de sua fundação, trazia em seu discurso tudo o que sonhávamos, em nossas atitudes juvenis, por um mundo mais justo, mais humano e mais feliz. Era a promessa de um amanhã risonho, onde a desigualdade seria varrida para debaixo do tapete da história. Por isso, aderimos ao PT e votamos, insistentemente, em Lula, até que ele finalmente foi eleito. Naquele momento, gritamos: Beleza! Nosso sonho vai se transformar em realidade e seremos felizes para sempre!
Ledo engano. Veio o que veio, deu no que deu.
Muitos eleitores honestos pularam fora do barco furado, nadando em direção a outras margens, menos traiçoeiras. Mas alguns poucos, teimosos, permanecem agarrados às tábuas podres que sobraram do Partido. Por quê?
Talvez isso ocorra porque, como nos lembra a Psicanálise, "o sonho, enquanto expectativa otimista e norteadora da vida, é o patrimônio pessoal que tem o maior valor entre todas as expressões subjetivas que sustentam o ser humano". Nesse sonho, o sujeito investe importante parte da sua energia psíquica, da sua libido. É como se, ao abandonar o sonho, ele estivesse abandonando uma parte de si mesmo, uma parte que, talvez, já não exista mais, mas que ainda insiste em habitar o seu íntimo.
Como bem disse o Cavaleiro da Triste Figura: "Se puede usurpar todo lo que una persona tiene, excepto sus sueños". E é aí que mora o perigo: quando os sonhos se tornam mais importantes que a realidade, quando a fé cega supera a razão clara.
E assim seguimos, entre sonhos e desilusões, navegando num mar de incertezas, onde o que resta é a esperança de que, um dia, possamos encontrar um porto seguro, longe das tábuas podres e dos barcos furados. (Fernando Ribeiro de Gusmão).