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MACEIÓ, DOMINGO EDIÇÃO DE 10 DE DEZEMBRO DE 2016 OPINIãO » MARCOS CARNAÚBA – ENGENHEIRO CIVIL E CONSULTOR
A SECA EM ALAGOAS
Foram décadas de lutas em defesa do sertão alagoano, gastando o meu tempo e um pouco do saber que adquiri com muito estudo e dedicação. Embasado em pesquisas do Professor Carlos Girardi, do CTA-Centro Técnico Aeroespacial, que previa um longo período de seca no Nordeste, 1979 a 1985, carreguei nas costas, até há poucos anos, o projeto do Canal do Sertão, de autoria do IPT-SP, vendo ali a saída para a região semiárida alagoana. Raros davam-lhe valor, e muitos o combatiam de forma ferrenha com argumentos vis, sem apresentarem alternativas. Políticos não demonstravam interesse, assim como os demais sertanejos que viam no projeto o benefício latifundiário, enquanto eu trabalhava com o colega alagoano, Wellington Lou, autor do Projeto Executivo, mudando o traçado original para beneficiar o sertão quase todo e não somente a bacia leiteira.
Fiz apresentações sertão afora, para governos diversos, ministro, até conseguir convencer o também meu ex-aluno de engenharia, Governador Ronaldo Lessa, a continuar a implantação do Canal do Sertão, obra iniciada pelo Governador Geraldo Bulhões.
Foi uma luta muito longa e desgastante. Transformaram um projeto técnico em projeto político a ser concluído em vinte anos, e me afastei do Canal para não me indispor com secretários que ora diziam o sertão não precisar de água, ora queriam os recursos – alocados – para dinamizar o turismo litorâneo porque o sertão nada produzia.
Hoje, com cerca de cem quilômetros plenos de água, o Canal continua sem estrutura de gestão, mas os sertanejos da área ora beneficiada dizem que o sertão está um céu, esquecendo, como sempre, que faltam cerca de cento e cinquenta quilômetros para a água chegar em Arapiraca, o objetivo maior. Nesse trecho tudo feneceu, as águas secaram, o sertanejo ora migra para estados do Sudeste, o gado minguou gerando desemprego e a falência socioeconômica regional.
O Presidente Temer vem aí. Não mostrem a ele somente o trecho concluído do Canal. Mostrem, também, a miséria instalada fora de sua área de influência atual, e o açude Bálsamo – Palmeira dos Índios – com seus dezenove bilhões de litros de água potável, cheio desde 2007 sem serventia para Alagoas, mas beneficiando o vizinho estado de Pernambuco.
Prefeitos! Não se apequenem! Impõe-se decretar Estado de Calamidade Pública, por exaustão de água naquela região.
Parodiando o saudoso médico e amigo Ib Gatto: em Alagoas não é para se fazer nada; o seu chefe não sabe fazer; e a você, o técnico que sabe, o fazer não lhe é permitido.