SOBRE A HISTÓRIA DA INFORMÁTICA EM PERNAMBUCO
O CRAY 1A
Fato que não pode ser esquecido sobre o início da Informática em Pernambuco ocorreu no começo dos anos 80 quando o engenheiro paraense/recifense Adson Carvalho — fundador e principal executivo da IT - Companhia Internacional de Tecnologia, daqui, de Recife, cismou de trazer para o Brasil o primeiro supercomputador a ser instalado na América Latina, sonho de um visionário que muito acreditava em Recife como polo de serviços computacionais.
Sua saga começou com viagem, em 1984, para Mineápolis - USA, para visitar a sede da Cray Research, fabricante do CRAY 1A, lançado em 1977, o maior computador então existente no mundo, utilizado por grandes companhias e pela NASA - Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço, dos EE.UU.
Para realizar seu sonho Adson precisava, de início, de duas coisas: da licença do Departamento de Defesa do Governo Americano e do apoio da SEI - Secretaria Especial de Informática, do governo brasileiro. O apoio da SEI ele, depois de muito ralar, acabou conseguindo, basicamente por conta da amizade que fez com o, então, embaixador do Brasil em Washington, Marcílio Marques Moreira.
No entanto, a licença do Departamento de Defesa americano foi outra história. Principalmente porque esse supercomputador era, inclusive, usado para construção de artefatos atômicos, cálculos de balística e para atendimento de outras demandas das forças armadas americanas. Tentando autorização dos americanos ele fez, naquela época, cerca de vinte viagens a Washington - DC. Foi inclusive, objeto de interrogatórios intermináveis por parte do governo americano e desconfiava que até seu telefone tinha sido grampeado. Confiando no crescimento da informática em Pernambuco gastou muito do seu tempo e do seu dinheiro. Ainda hoje muita gente se pergunta por que Adson investiu tanto nesse projeto, persistindo e se desgastando em um negócio por todos considerado muito difícil. Uma vez ele me disse: “é uma coisa que tenho que fazer”. Depois de dois anos de muito trabalho, finalmente recebeu uma carta do Governo americano, de apenas quatro linhas, dizendo que seu pedido tinha sido indeferido.
Curioso observar que o CRAY 1A, que tanto encantou Adson Carvalho, tinha, para a época, a enorme capacidade computacional de 160 MegaFlops ou seja, era capaz de executar 160 milhões de operações de ponto flutuante por segundo. Mas, pesava 5 toneladas e meia e custaria, a dinheiro de hoje, aproximadamente 32 milhões de dólares. Hoje, segundo a última postagem no blog do Sílvio Meira, a INTEL anunciou o lançamento do Core i9 Extreme Edition (i9-7980XE), um minúsculo chip, que custa apenas 1.999,00 dólares, mas é 6.000 vezes mais rápido que o supercomputador CRAY 1A, sonho do velho amigo Adson Carvalho. (Fernando Ribeiro de Gusmão)
Fernando, organizando meus arquivos, encontrei uma reportagem do Diário de
Pernambuco do dia 16/01/1968, sobre o desaparecimento de Rui Frazão, que
acredito que você já teve conhecimento.
Esse arquivo é importante para ser divulgado para as novas gerações que não
tem conhecimento de quem era Rui Frazão, de sua luta, seus ideais, seu
caráter, seu carisma, sua eloquência quando falava, sua liderança, e fatos
da sua vida pessoal e como aconteceu sua morte pela ditadura.
Vivo estivesse estaria contribuindo em defesa das causas sociais e o Brasil
perdeu um grande homem.
Lembro-me ainda de um último diálogo que tive com ele, na antiga cantina que
situava-se em baixo do Diretório Acadêmico da Escola de Engenharia em 1966,
quando o mesmo cursava o último ano do curso de minas, juntamente com
Zémario(recentemente falecido), Carlos Eugênio, Raimundo (natalense), Alfeu
Valência(único pernambucano que foi Ministro de Minas e Energia), do
cearense Chico Pessoa e outros que não me lembro dos nomes. Rui não chegou a concluir o curso devido à perseguição dos órgãos de repressão, mas nessa oportunidade quando lamentei o período que estávamos passando, com a prisão de vários colegas, comentou que um país não se forma com apenas uma geração, e naquele momento ele previu que se passariam mais 50 anos para que tivéssemos um pais mais justo socialmente e uma democracia autêntica.
Desde essa época já se passaram 57 anos e continuamos na mesma situação, ou talvez pior, mas é isso, e temos que acreditar em seu sonho e os nossos
também e temos que continuar a luta para que isso se realize, não para a
nossa geração, mas para os nossos filhos
e netos.
Em sua homenagem, quando da conclusão do curso, da sua turma na solenidade no Teatro Santa Isabel, que não houve discurso do orador Cristovam Buarque que tinha sido proibido pelo governo, e, quando o mestre de cerimônia chamou o último nome da turma todos se levantaram e gritaram FALTA RUI FRAZÃO!
Como lembrança justa da sua passagem na terra o seu colega de turma Alceu
Valença se emocionou bastante, quando voltou a encontrá-lo novamente depois de muito tempo, em uma pequena rua na Barra de Tijuca, uma placa com o nome de RUI FRAZÃO.
Caso julgue válido, divulgue essa reportagem para os nossos colegas e
para que as novas gerações conheçam quem era Rui Frazão.
Abraços
João Prado
Hoje seria o aniversário de Zé Mário. Essa fotografia foi no ano passado nos 80 anos dele. (Celso Valença).