Nas eleições deste ano precisamos de candidatos que se disponham a apoiar, a ajudar e a preservar a continuidade dos trabalhos da Lava Jato. Essa faxina ética é crucial para a nação brasileira porque um importante fator para a existência da corrupção endêmica que hoje grassa no Brasil decorre dos maus exemplos que, diariamente, são dados pelas autoridades à população brasileira.
Isso, porque, para poderem funcionar, as organizações –desde as famílias, até as empresas ou os países- adotam uma conhecida tecnologia organizadora chamada "Pirâmide de Autoridade". Uma das mais simples dessas Pirâmides de Autoridade é a família, com os pais como chefes e os filhos como subordinados.
Nas grandes entidades, as Pirâmides de Autoridade tomam feições mais complexas, com diversos níveis hierárquicos, onde aparecem presidentes, superintendentes, gerentes, chefes de departamentos e por aí vai, até as camadas mais baixas e simples das organizações, que nas indústrias são chamadas de “chão de fábrica”.
Uma das características mais marcantes das Pirâmides de Autoridade é o chamado "peso da hierarquia", que faz com que comportamentos e atitudes praticados por níveis hierárquicos mais altos atuem fortemente sobre níveis subordinados, obrigando essas posições dependentes da pirâmide a assumir formas e maneiras de comportamento dos seus superiores hierárquicos. Daí surge a conhecida regra comportamental que afirma: "o exemplo vem de cima" e “a palavra induz e o exemplo arrasta”. Vemos, por exemplo, que em famílias em que os pais se comportam de modo civilizado, dando bons exemplos, os filhos crescem de maneira sadia e tornam-se adultos com quem temos gosto de conviver.
Ocorre que, em qualquer sociedade formada por humanos —condomínios, clubes, países, etc.— sempre existem, em diferentes níveis e em diferentes proporções, pessoas “do bem” e, também, pessoas “do mal”. A crise que estamos vivendo no País tem mostrado a mim, a você, a nós, contribuintes, que, infelizmente, a parte podre da sociedade brasileira assumiu os mais altos escalões do governo, sendo, atualmente, maioria no executivo, no legislativo e até no judiciário, tanto na União, como nos Estados e nos Municípios. Assim, nosso sistema político corrupto vem contaminando e condicionando, inclusive, a atividade econômica, provocando desemprego, miséria e dor.
Portanto, a corrupção das autoridades é o fator mais importante que provoca e determina a corrupção dos subordinados. Quando um superior hierárquico não cumpre com a Lei, seus subordinados sentem-se, devido ao "peso da hierarquia", com o direito e, quase, a ”obrigação” de fazer o mesmo. É evidente que tudo isso leva qualquer corporação, empresa ou país ao caos. A autoridade corrupta é, nesse caso, fonte de intoleráveis maus exemplos, que põem a perder uma nação, uma empresa ou o trabalho de educação que uma boa família esteja fazendo.
Em outras palavras, a corrupção das autoridades —aliada ao peso da hierarquia— induz ao mau comportamento da sociedade brasileira em geral, na medida em que exemplos perversos aparecem todos os dias, com ampla difusão pelas redes de comunicação, sejam sociais (exemplo: What’sApp), sejam estruturadas (jornais, revistas e TV).
Como via de consequência, se temos interesse que o Brasil venha a ser um país decente para nossos filhos e netos, é necessário agirmos o quanto antes, no sentido de conseguirmos afastar os criminosos que ora entravam a gestão da coisa pública e que os ocupantes do próximo Governo (que vamos escolher pelo voto em outubro próximo), sejam bons exemplos para a população.
O bom exemplo é mais eficiente que todas as palavras que possam ser ditas, quando interessa obter-se uma modificação de aspectos culturais de um povo. Sem querer entrar no mérito da qualidade do Governo José Sarney, um fato ocorrido naquela gestão parece ser emblemático para exemplificar o poder de uma boa atitude tomada por um Governo e sua repercussão no seio da comunidade.
José Sarney assumiu definitivamente o Governo do Brasil em 21 de abril de 1985, após a morte do presidente eleito Tancredo Neves. Em fevereiro de 1986 a inflação (então, principal problema brasileiro), atingiu níveis de hiperinflação, com 256,08% ao ano. Tentando controlar essa situação, o Presidente Sarney instituiu, em 28 daquele mês, o Plano Cruzado, uma reforma monetária cuja espinha dorsal era o congelamento dos preços (e que, posteriormente, se mostrou totalmente insustentável). No entanto, logo de início, as medidas advindas do congelamento dos preços provocaram um choque positivo na economia, eliminando o “imposto inflacionário” e aumentando o poder de compra da população. Vendo o Governo trabalhar em seu benefício, o povo, de uma forma totalmente espontânea, assumiu o papel de “fiscal do Sarney”, vigiando e atuando no mercado, defendendo o congelamento dos preços. Apoiando o Governo —e a si próprios— grupos se organizaram para buscar gado que produtores escondiam nos pastos e víamos, pela televisão, pessoas envolvidas na nossa bandeira, cantando o hino nacional enquanto fechavam supermercados flagrados aumentando indevidamente seus preços. Em resumo, nesse caso histórico vemos como uma ação positiva do Governo (um bom exemplo), que mobilizou a sociedade, alterou muito rapidamente uma atitude que já era considerada como característica da própria cultura brasileira.
Por tudo isso, precisamos enfaticamente de candidatos a presidente e ao Congresso que se disponham a apoiar, ajudar e preservar a continuidade dos trabalhos da operação Lava Jato. (Fernando Gusmão)