(por Paulo Caldas)
Publicado em 26/07/2021 por Revista algomais às 6:46
Uma prosopopéia lúdica ou uma “loucura imaginosa’’, como diria Maximiano Campos ao folhear este “Vista encantada”, composto pelo talento, em dose dupla, de Maria Elizabeth Freire e Fernando Gusmão.
Personagens se destacam pela sublimação do insano. A narrativa transcorre com predominância na primeira pessoa, abraçada ao lúdico, ao uso da linguagem telúrica, sem, todavia, apelar para o artifício do escrever errado para certificar o dizer dos não letrados, um aspecto elogiável no labor de quem enfoca as artes dos grotões.
Chama a atenção habilidade das conexões sutis, entrelaçadas, qual siamesas, entre as doidices de Guarda-roupa e Dido, o falar sofisticado de um ou de outro, contudo, confere exotismo e inibe autenticidade, quando aqui e ali é notada a ausência do coloquial na voz dos protagonistas.
No entanto, tal pecado sucumbe à criatividade no tratamento dos “causos” nascidos da verve dos autores. Não obstante a perene insanidade, digressões históricas surgem no vai e vem, no sobe e desce da burrama, vislumbrando ainda caracteres geográficos, um misto de crendices de mãos dadas com o sagrado e o profano, além de aspectos sociológicos.
Com prefácio da escritora Lourdes Rodrigues e projeto visual de Ricardo da Cunha Melam, o livro foi editado pela Nova Presença e impresso na Luci Artes Gráficas. Os exemplares podem ser adquiridos no www.amazon.com.br.
*Paulo Caldas é Escritor
O Mestre Dilson Texeira
Por Alexandre Duarte Gusmão
Ainda adolescente ouvi falar muito de Dr. Dilson Teixeira na minha casa. Ele e meu pai Jaime Gusmão eram professores da disciplina Fundações no curso de engenharia civil da UFPE. Os alunos tinham que desenvolver na disciplina o projeto de fundações de um edifício. O projeto estrutural era sempre de um prédio real calculado na empresa do meu pai – ETEC Escritório Técnico de Estruturas. E as sondagens eram de algum terreno no Recife, fornecidas pela empresa de Dr. Dilson – Ensolo Engenharia e Consultoria de Solos e Fundações. Imaginem esses estudantes desenvolvendo um problema real de engenharia? foram docentes a frente do seu tempo, permitindo que aqueles futuros engenheiros lidassem com situações do dia a dia da engenharia ainda na faculdade.
Vi muitos alunos que se tornariam brilhantes engenheiros frequentando a nossa casa da Agamenon Magalhães para discutir seus projetos, tirar dúvidas, e chorar pelos pontos para serem aprovados ao final da disciplina. Só muitos anos depois, já como professor, percebi como aquela metodologia era importante na formação dos engenheiros. Hoje os especialistas chamam isso de metodologia ativa.
Resolvi fazer engenharia civil na UFPE, e tive que passar pelo mesmo drama de tantos engenheiros. Foi o meu primeiro contato com o famoso Professor Dilson Teixeira. Elegante, detalhista e atencioso com os alunos. Adorei a disciplina e resolvi entrar de vez na área de geotecnia.
Logo em seguida, surgiu a oportunidade de fazer iniciação científica na universidade. Eu me interessava por pesquisa, mas a minha paixão mesmo era ser engenheiro e professor. Então, eu o convidei para ser meu orientador, e fizemos um trabalho inovador sobre interação solo-estrutura de um prédio em construção em Boa Viagem. Aquela coisa de estudar uma obra de verdade e que estava sendo construída aos meus olhos, junto com tantas discussões com Dr. Dilson, me fascinava. Era a engenharia que eu realmente queria e sonhava.
Depois de formado, com uma carta de recomendação de Dr. Dilson, fui fazer pós-graduação no Rio de Janeiro. Na volta ao Recife, eu e meu pai fundamos a Gusmão Engenheiros Associados, uma empresa de consultoria e projetos de obras geotécnicas. Dr. Dilson já havia fundado a Ensolo há mais tempo. As duas empresas cresceram e venceram inúmeros desafios nas mais importantes obras em Pernambuco nos últimos 25 anos. A engenharia geotécnica pernambucana é hoje reconhecida em toda a comunidade técnica do Brasil pela sua competência e inovação. Dr. Dilson e a Ensolo são protagonistas dessa conquista.
Nunca deixamos de compartilhar nossas dúvidas técnicas. Fui a inúmeros encontros com Dr. Dilson na biblioteca do primeiro andar da casa na Rua Flor de Santana. Discussões acaloradas sobre a engenharia das nossas obras. Sempre com muito respeito, cumplicidade e principalmente solidariedade.
Ele sempre se referia ao meu pai como Mestre Jaime. Na missa de 7º dia do falecimento de Dr. Jaime, Dr. Dilson colocou minha cabeça nos seus ombros e choramos juntos.
E houve muitos encontros com esse engenheiro fabuloso que transformava problemas complexos em soluções de engenharia simples e viáveis. É assim que a verdadeira engenharia deve ser.
Hoje não tenho mais seus ombros para poder chorar... mas ao lançar o olhar sobre a cidade e ver tantas obras servindo à sociedade, e que foram viabilizadas por esse mago da engenharia, tenho a convicção que essa profissão é realmente encantadora e transformadora.
Obrigado Mestre Dilson Teixeira por manter acessa essa chama em tantos engenheiros.
Recife, 31 de julho de 2021