PRECISO
O que preciso agora é de uma gargalhada
Viva de irresponsabilidade
Que espalhe felicidade
Aos quatro cantos do mundo.
O que preciso agora
É de um bandolim que repique e chore
Velhos sambas canções,
É de uma história romântica de amor
De um queixume profundo...
Seja lá de quem for.
De violões sem som que cantem a tristeza do cantor.
O que preciso agora
É de um trago demorado, um pensamento perdido,
De copos bailando, brindando,
Aquele azul-lilás do beco do Marroquim,
Relembrando senhora dadivosas, das noites feitas de íntimos, que nunca tiveram fim.
O que preciso agora
É de casarões entreabertos
Banhados e cobertos
De sombras.
Canções do tempo extremo, deitadas em alfombras,
De amigos com passada lua,
De ruas desertas com clarões de saudade
Onde a fantasia fique nua.
O que preciso agora
É do eco da gargalhada no qual o impossível flutua.
(Publicada na Coletânea Literária Safira, de 2012.)
Meu Caro Carnaúba
Excelente a lembrança e o registro desta história. Eu, que sou um pouco mais "antigo" do que você, conheço-a muito bem, mas não estava agora lembrado. Vou aproveitar a oportunidade para registrar alguns detalhes complementares sobre o assunto, especialmente sobre as origens do problema.
Na verdade, o Recife sofria periódicas enchentes do rio Capibaribe que, com o crescimento da cidade eram cada vez mais devastadoras. Em junho de 1966 aconteceu uma que foi uma verdadeira tragédia. Mais de 100 pessoas mortas, grandes áreas alagadas por vários dias. Eu mesmo fiquei três dias preso no bairro do Cordeiro, sem qualquer possibilidade de comunicação. O meu fusquinha foi totalmente coberto pelas águas ali na altura do Hospital Getúlio Vargas. Os prejuízos para muita gente foram incalculáveis.
Para estudar o problema e propor solução, Governo então criou, através da SUDENE, uma Comissão formada por três especialistas, sendo um deles, que Coordenou os trabalhos, o nosso conhecido Professor Gerson Teixeira da Costa.
Referida Comissão concluiu que a solução seria a seguinte: construção de três grandes barragens, sendo a principal no próprio leito do Capibaribe, em Carpina, e duas outras nos principais afluentes do Capibaribe, isto é, a de Tapacurá, no rio do mesmo nome, próxima de Vitória de Santo Antão, e a de Goitá, no rio do mesmo nome, na área da Mata Norte. Além de contenção de cheias, as barragens teriam também a função de abastecimento d'água para a região metropolitana.
Além disso, a Comissão recomendou também algumas intervenções complementares na calha do Capibaribe já dentro da cidade do Recife, visando melhorar o escoamento dos grandes volumes de água que ocorriam durante aquelas enchentes. Aí é que se enquadrava a substituição da antiga Ponte da Torre, que por ocasião das enchentes funcionava como uma verdadeira barragem, e objeto da tentativa frustrada de implosão.
Ocorre que, passado o primeiro momento da tragédia, a coisa foi sendo esquecida e de tudo que havia sido previsto apenas uma única obra foi executada, justamente a barragem de Tapacurá. Na verdade, ela foi construída muito mais por que iria reforçar o abastecimento d'água do Recife, do que para conter enchente. Para exaltar a inauguração de Tapacurá, o Governo de Pernambuco de então, período 1971/1975, chegou a fazer uma propaganda irresponsável pela TV, que dizia mais ou menos o seguinte: "agora, enchente no Recife só se deixarem as torneiras abertas". As barragens de Carpina e Goitá ficaram no papel.
Foi aí que veio julho de 1975. A maior enchente já ocorrida no Recife até então. O Presidente Geisel viu tudo pela TV e veio imediatamente ao Recife, quando as águas ainda não tinham baixado de todo. E prometeu, desta vez todas as obras serão feitas. De fato, foram: a barragem de Carpina, que é a principal, a barragem do Goitá, e todas as obras complementares na calha do rio, entre as quais a velha Ponte da Torre que resistiu brilhantemente à implosão do japonês, nas teve que cair de outro jeito para permitir que maior fluxo de água pudesse passar por baixo dela.
Um observação: depois disso, cheia no Recife, nunca mais, mesmo com a ocorrência de grandes precipitações na bacia do Capibaribe. Inclusive, em 2010, quando houve verdadeira tragédia na área da Mata Sul, em razão do que atualmente estão sendo construídas algumas barragens de contenção, foi observado que na bacia do Capibaribe houve também grande precipitação, que se não houvesse as barragens teria inundado o Recife tal como em 1975.
Por fim, um pequeno registro quanto a um possível equívoco da matéria do Diário. Me parece que o órgão federal encarregado de executar aquelas obras não era o DNOCS, mas sim o DNOS-Departamento Nacional de Obras de Saneamento, órgão que infelizmente veio a ser extinto no governo Collor. Desde então, o governo federal não tem nenhum órgão encarregado da área de saneamento.
Carnaúba, dizem que recordar é viver. É o que estou tentando fazer.
Grande abraço
Feijó
(Com a colaboração de Marcos Carnaúba)
Em 12 de janeiro de 1978 eu completava 35 anos de idade, chegando aos 12 de formado. Naquela data, o Diário de Pernambuco tinha, como manchete de primeira página, que a Ponte da Torre iria ser destruída, numa operação que levaria menos de dez segundos. Seria, inclusive, um fato histórico: a primeira implosão de uma via elevada no País. A ponte seria implodida porque, sendo sua estrutura muito “baixa”, permitia o represamento de materiais nas cheias do Rio, facilitando que, anualmente, o Capibaribe invadisse os bairros do Recife, que ele atravessava. No seu lugar, seria construída outra ponte maior e mais alta, que sanaria o problema. Toda a intervenção era de responsabilidade do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas - Dnocs, ao custo de Cr$ 26 milhões.
Nos dias anteriores à data marcada para a operação, a curiosidade da população só crescia. Sob o comando do engenheiro-chefe do Dnocs, Giovanni Gondim e a responsabilidade técnica do engenheiro paulista Hugo Takahashi, 180 trabalhadores foram mobilizados e 500kg de explosivos foram devidamente colocados nas bases da ponte. O Diário referia que, na véspera do evento, duas viaturas de polícia ficaram de prontidão para evitar que curiosos detonassem os explosivos antes do previsto. No dia marcado para a implosão, juntou gente na Torre, para ver o grandioso espetáculo.
O resultado? A Ponte da Torre não caiu! Em vez de palmas, uma vaia estrondosa. Muito embora meia tonelada de explosivos tivesse sido utilizada, a Ponte continuava lá. Combalida, mas firme. E o Recife ganhou mais um “causo” para seu anedotário.
A explicação para o fiasco do engenheiro Hugo Takahashi, (com dez prédios postos abaixo no currículo), foi engraçada: “... o principal motivo, mesmo, foi o de não termos levado muito a sério a infraestrutura da ponte. A qualidade do concreto é baixa, mas a ferragem é muito boa...”, disse ao Jornal. Ou seja: ele não havia levado muito em consideração a qualidade da engenharia pernambucana...
No dia 15 de janeiro de 1978, o Dr. Takahashi apareceu na capa do Diário, anunciando que, no dia seguinte, às 8h, uma nova implosão ocorreria na Ponte da Torre, “desta vez com um novo processo, utilizando 80 quilos de explosivos”.
Em 16 de janeiro, a chamada na capa do Diário era de que a Ponte da Torre continuava de pé após a segunda tentativa!
A implosão acabou num frevo-canção intitulado “E a ponte não caiu”, de Mario Griz. A letra dizia: “Eu ri, você também/ todo mundo riu/ a bomba estourou/ mas a ponte não caiu/ o engenheiro pela TV/ anunciava a nova implosão/ E a galera na beira do rio/ mandava o japonês/ para a ponte que não caiu”.
(Fernando Gusmão https://fernandogusmao.blogs.sapo.pt)
Mas, aqui, trata-se de discutir Engenharia – e não serventia.
Canais semelhantes, aquedutos, têm sido construídos mundo afora da mesma forma, inicialmente definida pelos americanos. Têm a sua estrutura de base composta de bermas – e fundo – terrosos, compactados e nivelados, sobre os quais se estendem mantas de PEAD (1,5-2,5 mm de espessura) – de preferência texturada em ambas as faces - devidamente ancoradas nas áreas de circulação no topo do talude. Sobre a manta se executa uma camada de concreto simples – proteção mecânica, também impermeável – de espessura a ser definida no projeto em função das dimensões e do gradiente térmico, contendo juntas de concretagem verticais espaçadas da ordem de 2,5 m. Recomenda-se alternar a concretagem dos painéis de concreto e executar uma boa cura. A tecnologia atual recomenda a mistura de fibras metálicas, ou de polipropileno no concreto que atuam contra a fissuração. O telamento é outra opção, de montagem difícil, mais onerosa para obras de grande porte.
O concreto armado só é utilizado em pontes-canais e demais estruturas de transição eventualmente existentes.
É assunto de bibliografia nacional escassa e as especificações da obra são desconhecidas.
Deve-se aguardar as conclusões da perícia para se opinar com segurança quais as causas desse sinistro. O rompimento de placas ocorrido há vários meses, foi por falta de engenharia.
Marcos Carnaúba – Maceió – 13-08-2018