Lendo o artigo “Brasil sem voto” de Cristovam lembrei que os nascidos em 1943, como ele, eu e grande parte da nossa turma, são os brasileiros vivos que mais tardiamente ficaram habilitados a votar para presidente. Somente em 1989, com a idade de 46 anos podemos votar na eleição de Collor*. Na anterior em 1960 (Janio) não tínhamos a idade mínima de 18 anos.
Nossa geração foi a que testemunhou a maior e mais rápida evolução tecnológica da humanidade. Como exemplo usamos ábacos,réguas de cálculo e as “modernas “ Facit mecânicas e moramos em casas com fogão a lenha, sem energia elétrica e água encanada.
Preservando princípios éticos imutáveis, nossa turma teve inúmeros avanços pioneiros e exemplares. Sem falar da hombridade juvenil no respeito de opiniões divergentes que nos une até hoje, na vacância da ditadura criamos nosso regime eleitoral. Numa votação telepática e unanime elegemos, com mandato vitalício, o nosso presidente. O eleito Dorival com assessoria permanente dos ministros Lucila, Carnaúba, Gusmão, Zé Airton, Godoi e tantos outros abnegados colegas vem mantendo vivo nossos vínculos de mais de 56 anos. As boas e não boas noticias são rapidamente compartilhadas.
Já acostumado com a descontinuação de tantas ferramentas que tiveram fértil vida útil, o e-mail do grupo (em minha opinião) continua ainda uma boa solução, por guardar uma relativa privacidade. Os mais modernos e ágeis (Facebook,Istagram etc) sofrem muitas indesejadas interferências externas. Pouco me pronunciando, mas lendo tudo, vamos ajudar Dorival e abnegados a mantê-lo vivo e a Gusmão acumular lembranças no seu blog.
Torcendo e rezando (para os que como eu acreditam nela) para a melhora dos nossos colegas com sérios problemas de saúde, como Virgilio, Tetal, Marcão, Nego Tel, um Feliz Natal.
Celso
P.S. (*) Tenho uma vaga lembrança que mesmo a classe de 1942, só poderia votar se completasse 18 anos até maio ou junho do ano da eleição, o que nos tiraria este indesejado titulo.
“Foto de 22/7/67, dia do meu casamento com a Edialêda na cidade de Surubim. Nessa época eu já trabalhava em São Paulo, na Telefônica (TELESP) e vim apenas para o casório.
Da esquerda para a direita, tem-se: Verlane, Flora, Alcântara, duas irmãs, uma delas, Elza, médica, radicada na França, Leticia (grávida), Hairton, Edialêda, Wilton, Albérico, uma prima do Albérico, Cristina e Marco Juno. (Parece-me que de todas as turmas concluintes de 66, a de elétrica, proporcionalmente, foi a que teve mais colegas falecidos.).
O evento em Surubim chamou a atenção, pois os colegas que foram nos prestigiar, juntamente com os parentes dos noivos, fizeram uma farra enorme durante dois dias. Além de que, após a cerimônia religiosa (sim, me obrigaram a casar na igreja!), os convidados foram a pé até a Igreja, (depois de uma farra durante a manhã ), e, após a cerimônia, me cercaram e puseram a noiva num carro, fugindo para a PE-90, em direção à Vertentes. Pensem na aflição! (só retornaram meia hora depois). No final da noite, capitaneados por Alcântara, foram para um forró na cidade vizinha, até a madrugada.
Verlane: Foi contratado pela Eletrobrás, indo trabalhar no Rio de Janeiro, onde viveu até adoecer e retornar ao Recife onde veio a falecer.
Albérico, como todos sabem, era procurado, pois além de ter atividade politica intensa, nós o chamávamos de "velho" Albérico, e, segundo me contou, esse apelido, fazia com que os órgãos de repressão, o confundissem com o Carlos Marighela, que tinha o mesmo codinome. Passei muitos anos sem ter nenhuma noticia dele. Eu trabalhava numa fábrica no Rio, em 1973, e ele trabalhou um período na Embratel (o Gianfranco era da área de Treinamento da Embratel). Certo dia me ligou e marcou para que eu fosse lhe encontrar no seu apartamento na Nossa Senhora de Copacabana, numa quinta-feira, às 19:30hs. Nesse dia, eu passei em visita a clientes e minha secretária ficou ligando aflita, pedindo aos clientes para eu ligar urgente para ela. Por volta das 17hs, retornei a ligação e ela me informou que o meu amigo Albérico, ligou várias vezes me procurando no trabalho, até que disse para ela: Avise a ele para não ir me visitar pois "estouraram o aparelho".! Fiquei apavorado, pois essa visita poderia me trazer tremendos embaraços, além dos riscos de vida. Passei anos sem saber noticias dele, até que há uns 8 anos atrás, visitando a Coelba, que era meu cliente, conversei com um engenheiro da área de telecomunicações e perguntei pelo Albérico, pois soube que tinha se aposentado e morava em Salvador. O Albérico havia sido gerente da área, era muito querido e o pessoal continuava tendo contato com ele (era, um líder sindical aposentado). De posse do telefone, liguei para ele e fui visita-lo na praia de Itapuã (Salvador). Já o encontrei debilitado, pois havia implantado duas pontes safena que entupiram parcialmente. Tive que tomar uma dose de Whisky, para comemorar o encontro, pois ele disse que era essa bebida sua grande companheira. Sempre que ia a Salvador fazia questão de visita-lo e sentia que ele iria durar pouco. Mesmo assim, viveu ainda vários anos.
Quis repartir com vocês essa foto, que além de ser uma grata recordação, nos faz lembrar desse três colegas e amigos que nos deixaram.
Sobre o meu querido amigo Marco Juno, colega de Escola, de curso, de república e amigo da família, só saudades e lamentar seu falecimento.
É isso aí, um grande abraços a todos.
Wilton”
Abércio
Não foi fácil resgatar informações sobre ele nem conseguir alguém que fizesse isso por mim. Todos indistintamente que mais intensamente do que eu conviveram com ele, acobertados na imensidão de sua bondade, por telefone, falavam muito do que ele era e o quanto ele representa para cada um mas, discretamente não se sentiam a vontade para escrever, mesmo que explicitamente não se negassem a tal.
Isso se repetiu tanto a nível familiar quanto com relação aos colegas que com ele estudaram desde o colégio. Abércio Vital Gantois Bizarro: nome razoavelmente extenso e sofisticado para uma pessoa minuciosa, detalhista e simples como ele. Isto fazia com que eu e vários de seus colegas o tratasse indistintamente por Abércio, Vital, ou simplesmente, “Gorda”. Este apelido, por sinal, causou-me o constrangimento de ao gritar o seu apelido, ter de justificar-me para a professora Clarisse Mesel, outra pessoa também muito boa e amiga como quase todos os gordos que conheço e que só na barriga consegui imitar. Conheci Abércio como um dos componentes do grupo egresso do Colégio Nóbrega, como Oscar, Marcelo, Fred, Paulinho e Edinaldo. Todos, a exceção de Edinaldo, politicamente conservadores de direita. Abércio, sem nenhuma crítica nisso, o mais reacionário de todos, o que de certa forma contrastava com sua humildade e humanismo.
Conheci Abércio morando na Encruzilhada e já namorando com Maria do Carmo, com quem casou, “tendo e/ou criando cinco filhos legítimos ou do coração”, como ela me disse. Seu detalhismo era tal que varava a noite de estudo na casa de Luiz Oscar discutindo com este sobre o desprezo de um delta no desenvolvimento de uma fórmula, enquanto eu, Fred e Marcelo, pragmaticamente, preferíamos dormir ou simplesmente lanchar no Drive-in do Derby, pois no dia seguinte suas intermináveis discussões não conseguiam resultados muitos diferentes dos nossos nos exercícios escolares.
Sua preocupação com as coisas e com a natureza era tanta que certa vez, segundo Marcelo, ele chegou a lamentar ter de comer o animal abatido que antes havia visto na fazenda da família de Oscar. Fui ao seu casamento com Maria do Carmo, se não me falha a memória na Igreja do Espírito Santo - como santo era o seu espírito, e no mesmo dia também fui ao casamento de Oscar, coincidência ou não, justamente o amigo com quem mais Abércio discutia estudando.
Lembro também de um aniversário meu em janeiro de 72 em que ele me deu de presente, num pacote mal embrulhado, um chinelo dizendo-me que agora que eu era um Senhor (tinha me casado um pouco antes) precisava de um motivo a mais, além da esposa, para ficar em casa. Um bom chinelo seria o motivo. Lembro ainda de nossas idas aos jogos do Náutico. Numa dessas, em Caruaru, ao sairmos do estádio Pedro Victor, felizes com a vitória do imbatível time do hexa-campeonato, tivemos de amargar a tristeza dos centralinos, trocando os quatro pneus do Fusquinha de Abércio, todos muchos pelos e como os adversários. Lembro das suas dificuldades em tocar honestamente a fábrica de artefatos de cimento, de propriedade da sua família, no início da Avenida Beberibe, perdendo quase sempre as concorrências predatórias e dirigidas das licitações públicas.
Lembro das inúmeras vezes que lhe encontrei na Agência Banorte da Encruzilhada, onde meu irmão Gilberto, como gerente, conciliava suas contas e seus intermináveis papos, um pouco antes de sua viagem para Santos, onde faleceu.. Lembro por fim, a sua missa de sétimo dia na Igreja do Espinheiro, onde com outros poucos amigos, tivemos a oportunidade de conversar coisas como estas e que só hoje, 11 depois, pelas dificuldades de outros mais próximos e competentes tive a oportunidade de relatar. Gordo Abécio, bom Vital, nada Bizarro, um eterno abraço. (Jaime Galvão).