Segunda-feira, 13 de Março de 2017

Carta de Em 10/03/2017 do Prof.José Antonio Feijó de Melo para Marcos Carnaúba

Prezado Carnaúba

Esse é um equívoco muito grande que muitos especialistas vem incorrendo. Não há nem pode haver confronto entre a Transposição e a Revitalização do São Francisco. São duas coisas importantes, necessárias e urgentes, pois se pode afirmar que ambas já vêm com muito atraso.

O equívoco é imaginar que se deveria primeiro fazer a revitalização para depois fazer a Transposição. Nesta hipótese, na verdade a Transposição nunca seria feita, enquanto a população da região ficaria sempre na dependência dos "caminhões pipa". Acredito que será muito mais fácil desenvolver-se um projeto de revitalização e executá-lo, depois da Transposição, justamente argumentando-se que a Transposição corre risco se a revitalização não for feita.

A revitalização é uma obra muito variada, cobrindo na essência toda a área da bacia, porém sem marcos globais específicos muito claros para a população e sem resultados diretos medíveis global e facilmente. As suas vantagens se traduzem através dos benefícios que produz a outras finalidades e a outras obras.

Em outras palavras, uma obra com maior grau de dificuldade para se viabilizar em termos orçamentários por sí própria. Na verdade, que eu saiba, já havia sido iniciado um programa de revitalização concomitante à Transposição, incluindo obras de tratamento de esgotos em várias importantes cidade ribeirinhas (precisariam fazer-se em todas), reflorestamento ciliar do rio em alguns trechos, entre outras. Mas, nas primeiras dificuldades da economias foram todas ou quase todas paralisadas.

A Transposição quase que ia também ser paralisada, na virada do governo Lula para Dilma. Quem olhar o relatório de acompanhamento mensal (há bastante tempo, mesmo de fora, acompanho a obra) da execução do PISF vai ver que o ano de 2011 foi o de menor dinamismo na execução do projeto, quando em alguns trechos chegou mesmo a haver paralisação. A obra foi retomada pela sua importância para a população da região.

Para concluir Carnaúba, quero esclarecer que há um grande equívoco de pessoas bem intencionadas, mas que não conhecem a realidade do sio São Francisco, ou a conhece superficialmente. Então falam a partir de dados pontuais, como aqueles que estão ocorrendo nesses últimos três anos, que realmente mostram vazões muito abaixo da média, tanto no período normal de baixas vazões (maio/outubro), quanto no período de vazões mais elevadas (novembro/abril), configurando novos ano e período críticos para o histórico da hidrologia do rio.

Como sabemos, as obras de engenharia não podem trabalhar com dados pontuais, mas sim com um conjunto amplo de dados abrangendo múltiplos e variados aspectos. Por exemplo, as vazões mínimas registradas ao longo do histórico são tão importantes quanto as máximas. De suma importância também é a chamada Vazão Média de Longo Termo (MLT), especialmente se se conta com reservatório de regularização. Para os engenheiros projetistas e construtores de barragens é de fundamental importância a chamada "decamilenar". Em resumo, para qualquer obra envolvendo um grande rio, deve-se considerar um grande volume de dados técnicos para que se possa definir um projeto real.

Antes desse atual período de baixas vazões do Velho Chico, o ano de vazões mais baixas do rio registrado no histórico existente desde 1931 era o ano de 1971 que, por isso, ficou estabelecido como o "ano crítico" do regime hidrológico do rio. Pois bem, na época falou-se por aqui que o rio estava secando, etc. A obra de Sobradinho iniciou-se justamente naquele ano e houve quem pensasse que Sobradinho jamais iria encher-se, para acumular o volume de 34 bilhões de metros cúbicos de água e proporcionar a regularização plurianual do São Francisco. Então, o que aconteceu? A partir de 1978  o rio surpreendeu e entrou num regime de enchentes que durou praticamente três anos (1978/1979/1980). Foi observado pique da vazão afluente a Sobradinho de 17.000 m³/s. Sobradinho encheu em apenas cinco meses.

O que você poderia me perguntar seria por que Sobradinho, que foi construído para proporcionar uma vazão regularizada a jusante da ordem de 2.000 metros cúbicos por segundo, não esta' cumprindo esta função? 

Então eu responderia que isto 'e outra historia. Trata-se do abandono do critério de operação do projeto em favor de nova regra que foi implantada a partir de 1995 pelo modelo mercantil do setor elétrico nacional. Esta nova regra pode e deve ser corrigida, para observar-se os critérios de projeto. A partir do momento em que Sobradinho estiver novamente cheio, a vazão de jusante poderá ser garantida na ordem dos 2.000 metros cúbicos por segundo, 24 horas por dia, 365 dias do ano.

A proposito, em mensagem paralela, vou lhe repassar uma informação que recebi nesta segunda-feira passada do ONS com os dados oficiais validados atualmente sobre as vazões Medias de Longo Termo (MLT) do Velho Chico, mês a mês, bem como a MLT anual. Para n`os engenheiros, não deixam duvidas sobre as condições do rio para atender uma retirada de apenas um por cento dessa media (26 metros cúbicos por secundo) para assegurar água ao povo sofrido do Nordeste.

Se julgar valido, pode repassar para a sua lista.

Abraco

Feijó

publicado por Fernando Gusmão às 19:02
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Dorival no lançamento do mais recente livro de Cristovam, “Mediterrâneos Invisíveis”, na sexta feira 10/03/17.

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publicado por Fernando Gusmão às 18:42
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Cristovam Buarque e colegas no lançamento do seu mais recente livro, “Mediterrâneos Invisíveis”, na Livraria Saraiva, na sexta 10/03/17.

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publicado por Fernando Gusmão às 18:29
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