Segunda-feira, 26 de Outubro de 2015
MARCO JUNO: SAUDADES SEMPRE; TRISTEZA NUNCA!
Quinta-feira, 22 de Outubro de 2015
Conhecemo-nos no Cursinho do Diretório Acadêmico da Escola de Engenharia, em 1961.
Após o vestibular , recebi o convite de Roberto Bitú, para morar no Apt 23, do Edificio Capibaribe, na Rua da Aurora. Era um imóvel da família de Bitú, que tinha estado alugado, até então. Formamos uma “república”, com os seguintes integrantes: Eu, Bitú, Marco, Roriz e José Barreto. Logo a seguir, o Bitú alugou o quarto de empregada a Manoel Aragão, que disse que gostaria de ficar isolado, para ninguém mexer nas coisas dele...Eu fiquei num quarto, Bitú e Roriz no segundo e Marco e Zé Barreto no terceiro.
Quando Marco chegou , trazia uma mala (com cadeado), uma estante e uma cama de solteiro. Logo verifiquei que poderíamos ter problemas, pois tudo dele era organizado.Arrumou sua estante , colocando na parte superior os livros, bem escorados de ambos os lados do conjunto, para mantê-los na vertical. A cama tinha uma colcha de chenilazul, sem nenhuma dobra. No outro lado do quarto ficava a cama de Zé Barreto, que quando chegava de uma farra, se jogava nela, sem nem tirar a colcha que a cobria. Havia um choque de comportamento enorme, mas o Marco nada falava ou censurava.
Ficava na dele.
Pela manhã, o Costa Flôres, como o chamávamos, era o primeiro a levantar. Colocava uma bermuda, tomava banho e começava a escovar os dentes. Logo ao terminar, dava duas batidas com a escova na torneira da pia(religiosamente, diariamente).Com o tempo, esse era o sinal que eu esperava para acordar. ..Sempre foi metódico.
Marco participava de tudo: jogava pelada num campinho próximo, e, às vezes, jogávamos até na maré, quando, essa estava vazia, na frente do Edificio. Nas farras, era muito comedido e bebia pouco. Nunca se embriagou.
O auto-controle, sua personalidade forte, talvez o medo do ridículo, se ficasse embriagado, o mantinha cuidadoso com os excessos. Acho que ele estabelecia um limite e dali não passava. Mas, também, tinha o cuidado de não falar mal de ninguém, nem censurar quem quer que fosse.
Naquela época, o apto era frequentado por um monte de colegas, sendo os mais frequentes: Marcelo ( que chamava o Marco de colega Costinha). Marco terminou invertendo o apelido e o Marcelo passou a ser conhecido como colega Costinha. O fato curioso é que o Marco, vendo que o Marcelo tinha dificuldades de, diariamente, vir de sua casa em Camaragibe, para a Escola, foi dando um jeito dele ir“parando” pelo 23. Ele sempre foi um amigão do Marcelo e o ajudava em tudo. Alcântara, Hairton e Albérico , sempre estavam por lá, principalmente em vésperas de exercícios escolares pesados.
Apesar do ambiente politico que predominava no país, na nossa época de estudante, nosso apartamento não ficava isolado, pois vários colegas tinham atuação na politica estudantil, mas Marco mantinha-se na dele.Escutava e, embora nas assembleias estudantis, sempre votasse com a turma da esquerda, não emitia opinião.
No período do Apt.23, tivemos momentos desagradáveis, quando o Eriberto foi morar lá e saia juntamente com o Zé Barreto para farras homéricas. Ambos passavam por problemas particulares e descarregavam no álcool. Tanto eu, quanto o Marco, fazíamos um esforço enorme para manter a situação sob controle. Com a falta de grana, o Bitú passou a convidar várias pessoas para o 23 e o local deixou de ser como nos primeiros anos, onde havia brincadeiras, mas, respeito e confiança . Com a vinda de minha família para o Recife, fui morar com ela no ano de 1965, deixando a convivência com os colegas do 23.
A amizade entre mim e o Marco perdurou. Trocávamos informações sobre os namoros, e nossos familiares passaram a se conhecer , também. Fui para São Paulo, logo após a formatura, pois não via condições de ficar em Recife(não havia Chesf, nem Celpe e a indústria era incipiente). Retornei, 06 meses depois, para me casar em Surubim, terra da Lêda. (Viajamos dois dias depois para S.Paulo , onde já estava com o nosso apartamento montado). Pois bem: Marco, com toda a família, Alcântara, José Hairton e Albérico ( outros grandes amigos), foram para Surubim, pernoitaram e foi uma farra enorme, durante dois dias.
Ao retornar de minha estada no sul (S.Paulo, Rio e Porto Alegre), em 1981, o primeiro colega a me procurar em Recife, foi o Marco, agora já casado com a Cristina e com três filhos.
A amizade entre nós , continuou até hoje, envolvendo também, as nossas famílias. O mesmo posso dizer de Alcântara e Zé Hairton.
Fiquei muito feliz com o lançamento do primeiro livro do Marco. Não parecia um neófito no ramo. O livro é muito bem escrito, é gostoso de ler, feito com cuidado e esmero, como tudo que ele fazia. O segundo livro é melhor ainda, pois é de ficção, onde a criatividade é muito grande e nos prende do inicio ao fim. Revela-se aí um grande escritor.
O dia 11/10/2015, me marcará para sempre , pois perdi um grande amigo. Fica o exemplo de vida, um comportamento correto, uma existencia com trabalho e dignidade, uma família bem estruturada.
Estou triste, mas vou lembrar dos bons momentos, até chegar minha hora.
Wilton
12/10/2015
Quarta-feira, 21 de Outubro de 2015
Missa marcada para 19h30 desse dia 19 de outubro de 2015 na Igreja das Graças, Recife. O templo muito belo, claro, com paredes de cores levemente azuis, algumas flores e a imagem no alto frontal de Nossa Senhora das Graças.
Ao lado do altar, bem perto, o retrato de Marco Juno com os dizeres "Marco Juno, saudade sempre, tristeza nunca..."
Cheguei uma hora antes, às 18h30, na Igreja, poucas pessoas ainda. Cristina, com vestido preto, ao lado do filho Julio, recepcionava os que chegaram. Aos poucos, o salão foi se enchendo de gente com semblante sério, revelando o sentimento de perda daquele ente querido.
Chegaram também os outros filhos, Juliano e Marco Juno.
A cerimônia foi se aproximando do início e às 19h40 horas, o padre começou a celebração da missa em honra ao nosso colega Marco Juno. Ao lado do padre, nosso colega Sósthenes, de bata branca, o auxiliava como diácono, ajudando no processo litúrgico.
Uma voz masculina enchia o ambiente com cânticos sacros, um som bonito, prazeroso, com frases adequadas ao momento, de memorizar e reconhecer as virtudes de Marco Juno Costa Flores. Nos cânticos, frases que intercalavam expressões assim: plena glória.... O Cristo que viestes chamar.... meu coração é do Senhor .... cubra-me com seu manto de amor... Nossa Senhora me dê a mão.... cuida de mim....
A liturgia da missa seguia com a participação de parentes próximos de Marco Juno, lendo pequenos trechos evangélicos. Seu filho Juliano, uma nora, e três netos. Muita emoção nesse momento. O neto de 10 anos lendo e chorando, emocionou ainda mais a todos os presentes.
Veio a parte da liturgia da Comunhão, muitos participavam e, em fila, recebiam a hóstia das mãos do padre celebrante e de Sósthenes.
Na parte final, o filho Júlio, leu um depoimento sobre a personalidade do pai, Marco Juno: Conselheiro, amoroso, conciliador, amigo, presente. Foi mais um instante de emoção.
Ainda, uma colega do grupo de escritores da Boa Prosa, leu um texto reconhecendo o escritor Marco Juno como bom escritor, que de sua cadeira de casa, se balançando, via o mundo inteiro.
Missa terminada, os abraços de condolências aos familiares de Marco Juno.
Saí da Igreja também cedo como cheguei, mexido inteiramente, certamente pela emoção daqueles momentos.
Meus olhos passaram pelos colegas presentes, Wilton, Cerqueira, Jaime, Homero, José Hailton, Lucila, Dorival, Rutheford, Fernando Gusmão, Tetal, Feijó, Valadão, José Mário, e outros que talvez não vi naquele volume de gente, de igreja cheia, ou que talvez vi e agora a memória não me ajuda.
Na rua plena de carros estacionados, a pouca iluminação contrastava com a luminosidade da nave da igreja, muita luz, tudo claro. A imagem do poster, com a figura serena de Marco Juno ficou por muito tempo na minha mente. E lembrei-me também, ao entrar no carro para voltar para casa, do encontro de tive com Marco Juno, há umas 4 semanas atrás, mais ou menos, no corredor do Shopping Recife, nos abraçamos, falamos de futuros livros e fomos cada um para o seu lado. Não sabia que era o último contato pessoal com aquele que marcou por suas virtudes de amigo tantas tatuagens de afeto nos corações da turma de engenheiros 66, da saudosa Escola de Engenharia de Pernambuco.
Que ele siga o caminho da Vida em paz!
Roldão
P.S. Quis fazer esse relato para presentear os colegas que moram em outras cidades, ou que não puderam comparecer a missa. Tive vontade de fazê-lo ainda na missa e me ocorreu a lembrança de João Guilherme, Ronaldo Godoy, Ronaldo Amarelinho, Celso, Fred Robalinho, Virgilio, Artur Padilha e meus conterrâneos Quico, Marcos Carnauba e Luzo.