Quarta-feira, 25 de Julho de 2007
17-Meyer Mesel.
Brilhante professor de Estabilidade das Construções, de esmerada didática, deduzia fórmulas complexas com letra desenhada que enchiam várias vezes aqueles imensos quadros verdes. O seu sadismo se refletia nas provas que eram difíceis e trabalhosas. Levávamos quatro horas para resolver as questões e era aquele inferno das máquinas Facit, trim pra lá, trim pra cá, endoidando o juízo de todos.
Aluno razoável que era passei por média com um acidente no cálculo de uma barragem. Coletara de uma tabela um coeficiente errado – o f do solo utilizado – e desenvolvi o cálculo correto, mas com esse parâmetro trocado. Durante a aula seguinte ele foi ler as notas e parou no meu nome: novidade, Carnaúba, nota zero!- Algum comentário?-Não senhor porque a minha barragem ruiria.
Tinha uma relativa amizade com ele o que me permitiu solucionar um caso que poucos conheceram. A formatura marcada para o dia 17 de dezembro, dois colegas que repetiam a cadeira não se formariam porque Meyer marcara a prova para o dia 19 (olha o sadismo aí)!-Conversei com Arlindo Pontual, expus o problema e pedi-lhe para me levar à casa de Meyer à noite. Fomos lá e solicitei ao professor que antecipasse a data da prova para o dia 15/16, não lembro. Aceitou sob o condicionante de eu assistir à prova para ninguém responsabilizá-lo por uma eventual reprovação. E assim ocorreu, os dois colegas atemorizados se acalmaram com a minha presença, fizeram boa prova e foram aprovados. Um deles, de saudosa memória: Lourenço. Nota: posteriormente o Aluízio Câmara se manifestou informando que outros caminhos também foram trilhados. Ele desconhecia esse meu ato, e eu os dele.
Devo confessar que após ser aprovado na cadeira dele toquei fogo na apostila e nos cadernos de Estabilidade na porta da EEP, o que gerou um constrangimento anos depois. Sob o clima do episódio de expulsarem o Meyer da Escola, recebi, em Maceió, a visita de um emissário do Luciano Lobo – pedindo o caderno de aulas para demonstrar que ele (Luciano) ensinara o Método de Cross. Meyer só ensinava o dos Três Momentos (o que todos os calculistas combatiam, e o alunado também) hoje utilizado nos softwares de estruturas. Pedi desculpas, disse-lhe que tinha dado o caderno para outro colega e não lembrava mais a quem.
Conheci um amigo de meu pai cujo filho nunca se formou em engenharia traumatizado com as provas do Meyer Mesel. Há notícias por aí de muitos nas mesmas condições.
Mesmo assim, odiado por tantos, foi estúpida a sua morte em uma verdadeira câmara de gás na Bolívia.
18-Bruno Maranhão.
Atlético, alterofilista, brigão, hoje seria chamado homem bomba talvez consumidor de anabolizantes. Certo dia alguém do grupo dele acertou-me uma banda de laranja na nuca, e corri para pegar o cabra e dar-lhe o troco. No meio do caminho, Bruno com seu avantajado físico, me pegou pelo braço como se fosse eu um mosquito e armou o murro que me desconjuntaria o esqueleto. Encurralado perto da escada, pensei nas artes marciais que tinha aprendido com Ivan Gomes e outros lutadores de judô, preparei-me para desviar o murro e me escorei em um canivete de mola que sempre portava no bolso de trás da calça. Eu, uma fera acuada, o Bruno, um Hércules, olhar de desdém deve ter visto algo em meus olhos, baixou a guarda, deu-me um abraço e disse-me: baixinho vamos esquecer isso!-Dei graças a Deus.
Recentemente envolveu-se no episódio da quebradeira da ante-sala do Congresso Nacional. Errou de endereço!-deveria ter quebrado o Plenário com todos os mil diabos que vivem lá dentro enganando o povo.
14-Albérico e Edinaldo – eternos doutrinadores de esquerda passavam as horas vagas me catequizando para ajudá-los no movimento, sem sucesso. Muitos pensavam que eu era de extrema direita, razão de muita desconfiança sobre as conversas na minha presença.
A prova da fidelidade aos colegas deu-se no 4º ou 5º ano quando fui visitado, no 901 do Ed. Mandacaru, por um oficial do EB, fardado, alagoano, tentando me cooptar para ser informante. Repeli-o, severamente, porque jamais denunciaria um colega por ter ideologia diferente da minha.
Anos depois o Edinaldo foi acusado do atentado a bomba no aeroporto dos Guararapes durante a visita do Costa e Silva. Edinaldo foi exilado na França onde permaneceu por vários anos. Sempre, em função da sua postura e temperamento, o considerei inocente. Só nos reencontramos na comemoração de Gravatá (25 anos?), com câncer e em cadeira de rodas. Perto do final do encontro fiz um pronunciamento treme-terra indagando dos colegas de esquerda a razão de ninguém lhe ter prestado, naquela hora, a merecida homenagem por seu idealismo e companheirismo, pelo sofrimento que lhe fora imposto pela ditadura, principalmente por ser inocente. Soube de seu falecimento poucos anos depois. Nota: posteriormente, Wilton Jansen contestou o relato da minha crítica de “ninguém ter prestado a merecida homenagem” porque fora um acordo, entre seus amigos próximos, não tocarem no assunto. Eu desconhecia isso e o saudei.
15-Nome da Turma. Aécio, ferrenho militante de esquerda, de uma ou duas turmas antes da nossa, tornou-se meu amigo e companheiro das cachaças eventualmente ingeridas. Estava detido na penitenciária do Recife e uma parte da turma escolhera o seu nome para ser homenageado. O EB mandou avisar que se constasse o nome dele não haveria solenidade de formatura. Foi rolo feio! Pedi a Arlindo Pontual para me levar ao Comando do IV Exército onde solicitei autorização para ir visitar o Aécio na cadeia. Arlindo garantiu ao comandante a minha postura e lá fui eu visitar o amigo em busca da sua recusa, por escrito, em aceitar a homenagem. Apesar de sua alegria ao me ver por lá se entristeceu com o pedido e mais ou menos assim se expressou: “se eu fizer isso estarei renegando as minhas convicções e serei penalizado pelos meus companheiros, sabe-se lá como”.
Fizemos uma assembléia geral na Escola, expus o que tinha feito e o que tinha ouvido do Aécio, destacando que todos seriam prejudicados, inclusive o próprio, e lancei o nome de Arlindo Pontual em seu lugar.
16-Luciano Lobo e esposa, Clarisse (irmã do Meyer Mesel)- Comentários da turma sobre o imaginário namoro, a magreza dele e a obesidade dela: você tem alto coeficiente de flambagem; você tem grande momento de inércia!
Estagiei, como voluntário, os dois últimos anos de estudante no escritório de cálculo do Luciano Lobo. Dois episódios marcantes. Alguém de uma andar superior cuspiu em sua cabeça quando ele estava na janela. Subimos para pegar o culpado sem sabermos de onde viera a cusparada e ele passou o resto da tarde xingando o anônimo.
Deu-me uma carona e ao parar no sinal da ponte da Boa Vista havia um carro na frente do seu Aerowillys . O sinal abriu, ele buzinou duas ou três vezes porque o motorista estava conversando com um pedestre, e o primeiro mandou-o passar por cima. Engatou uma primeira deu uma batida no outro carro e saiu a empurrá-lo rua afora. Não houve tapas porque o outro se acovardou!
O único pagamento que recebi do Luciano – calculei muitas fundações dos prédios que ele projetava porque eu tinha os livros do Guerrin (ainda os tenho) em francês, idioma que ele não dominava - foram as alianças para noivar com a Glorinha.
8-Aula de Manecão _ Mecânica aplicada (ou dos sólidos-não lembro), e Manecão com aquela mania. Dizia duas palavras e indagava: não é? – até que um dia alguém – precisamos descobrir quem – disse lá detrás: é nada professor!-Não é um porra, foi a resposta e um rolo dos diabos dentro da aula.
9-Zezinho Schwarts- Não agüentava o tranco de amanhecer o dia estudando. Lá para as tantas lhe dava um acesso de risos incontrolável e ninguém mais estudava até ele ir para casa. Quando andava de carro conosco imitava com tamanha perfeição a sirene das ambulâncias que os carros abriam passagem para nós. Na cerimônia de formatura na Sinagoga ali da Boa Vista, comparecemos em massa para ouvir a pregação do rabino e os cânticos hebraicos muito bonitos. Para entrar no recinto era obrigatório o uso do solidéu!- Saí da sinagoga portando o que me deram, para tomar cachaça em um bar próximo, e um assistente do rabino correu rua afora para tomar a peça me chamando de moleque!
10-Prova de Manoel Caetano – Geometria Descritiva junto com a turma do 3.º ano. Como era eu um razoável aluno e o Caetano já me conhecia, comecei a ensinar ao Regis-Minas (3º ano). Já concluíra a prova e aquele homenzarrão resolveu tomá-la!-Segurei de um lado da folha e ele do outro. Saí puxando-o de sala afora ele sem querer rasgar o papel, muito menos eu! – Anos depois correu a história de um loteamento que Manoel Caetano vendera e só levava os clientes com a maré baixa. Era inundável!
11-Festa na Escola de Engenharia-Era eu diretor social ou coisa parecida e organizamos uma festa convidando alunos de várias outras escolas. Como morava perto fui ao apartamento buscar algo que não lembro. No regresso, já na rua do Hospício, fui, praticamente, seqüestrado por 3 ocupantes de um jipe que na contramão se dirigiam para a festa. Mais uma vez o canivete de mola coçou no bolso, mas não poderia brigar com três. Na porta da Escola saltei e corri para chamar os colegas mais fortes, guardiões da ordem: Dilsão, Alcântara, Tetal e mais dois que não lembro, além de outros. Proibimos a entrada dos penetras, mas o Regis-Minas (3.ºano) acabou a nossa festa efetuando, para o alto, dois disparos de uma combléia que portava.
12-Tetal e eu fomos em sua caminhonete Desoto cor de abóbora à casa de alguém lá na Caxangá. Lá para as tantas um pum de fazer o diabo tampar o nariz. Tetal parou correu rua afora batendo em casas de desconhecidos até que alguém lhe permitiu usar o sanitário. Viajávamos algumas vezes para visitar as pontes que o pai dele, Luiz Nebl, construía em Ipojuca. Muitos pediam carona nas margens de estradas e ele, sem tirar a mão do volante, apenas negava balançando o dedão tal qual um limpador de pára-brisas. Grande amigo, fiel e dedicado, anos depois me abrigou em sua casa com a Glorinha e Fabiana, a primeira filha, carente de exames em Recife. Devo muito a D. Ritinha, sua mãe, brava paraibana ainda muito lúcida.
13-Aula de Guerreiro-Hidráulica – Base Naval do RN. Como eu tinha um amigo carioca, filho de um coronel da Aeronáutica, cuja irmã era noiva do Gerente de Vendas da Bacardi, consegui 4 caixas do rum cuja fábrica estava há pouco tempo instalada no Recife. Foi a maior cachaça da história, ficamos alojados na Base e um marinheiro nos ensinou a tomar garapa antes de beber. Acabei dando um beijo na careca do Guerreiro para demorarmos mais meio dia, creio, no retorno ao Recife. Alguns ficaram escornados, mas não lembro quem.
1-O Trote.
Não havia maior vibração para um estudante do que a de ser aprovado no severo vestibular da Escola de Engenharia de Pernambuco, à época a melhor do Nordeste, se igualando à da Bahia.
Organizado pelos veteranos os feras a tudo se submetiam. Lembro-me que, nessa época, estava em testes a TV Jornal do Comércio, presente para documentar a festa. Formados para o desfile, vi uma estranha arrumação logo atrás de mim – vestido de noiva e um colega de Juscelino Kubischek, alusões à desenfreada inflação – e observei um engradado revestido de pano verde, sobre um “rabo-quente” pequeno carro da Renault, contendo um tubo vazio de papel vegetal apontando para a frente. Um cartaz dizia: isso é um trator!-qualquer semelhança com arma de guerra (tanque urutu) é mera coincidência. Correu o zum-zum-zum que o EB não permitiria a saída do trote, mas os veteranos insistiam e os feras “caneados” nem aí estavam!- Lá para as tantas tiraram a armação de cima do carro e mandaram meia dúzia de feras carregá-la. Nego Tenório era um deles. E o trote assim formou-se na rua do Hospício. Como nunca fui derrubado pela cachaça, hoje abolida, e como alagoano da terra de tiroteios, fiquei cismado e em alerta. Lá para as tantas aquele burburinho e corre-corre vindo da Boa Vista!-Eram os urutus, tanques de guerra de pneus que o EB lançara sobre nós!-Gritei para os colegas saírem debaixo da “arapuca” que carregavam e só houve tempo para a largarem no chão quando foi esmagada pelos largos pneus da real arma de guerra. De minha parte pulei entre as pernas de alguém que estava na janela de um Sebo existente em frente da EEP caí em cima de um monte de livros velhos e fui parar nos fundos da loja. Até hoje me pergunto, em face do clima revolucionário reinante, quem buscava fazer vítimas e, com certeza, não era o EB. A matéria saiu na TV.
2-Cavalaria.
Provocar o EB era coisa corriqueira. Vez ou outra a Escola era invadida por militares e, que me lembre, apenas uma vez o Diretor, não sei se Newton Maia, ou Ivan, impediu a entrada dos soldados enquanto a moçada fugia pulando o muro que se limitava com a Casa do Estudante, ou uma pensão, não lembro.
No quartel general da estudantada, Bar do Chope, no centro do Recife, era comum o surgimento de patrulhas da cavalaria do EB com soldados armados de imensos cassetetes de madeira. Nunca acabava bem e um belo dia botaram os cavalos em cima de nós e levaram quedas fantásticas porque a moçada espalhara ximbras (bolas de gude) aos montes e os cavalos se espragatavam no chão com soldados e tudo. Aí o cassetete vadiava e ninguém ficava para ver o resultado. Lembro-me que Arlindo Pontual – a Moveterras, sua empresa, era por ali – tomou um sobrinho das mãos de um soldado que lhe batia, mas ainda levou umas bordoadas.
3-Aurélio de Moraes Duarte – morava no primeiro andar de uma espécie de pensão na rua Boa Vista e cursávamos a cadeira de geologia (quando troquei as amostras das caixas e o professor assistente deu a aula errada), reclamava que não podia dormir porque um casal de namorados passava as noites chumbregando na porta do térreo. Disse-lhe: joga um balde com água neles, pô!- Eu vou jogar é um riólito extrusivo daqueles da geologia!
Fazíamos lanches noturnos no bar do Vieira, rua do Hospício, noites tardias de estudos freqüentes. Aurélio sempre presente, um dia faltou. Vieira botou as mãos nos quartos e indagou: cadê o Branquinho? – Que branquinho, Vieira?-Aquele que anda com um monte de livros debaixo do braço. Daí surgiu o apelido “Branquinho” que usei até quando se foi!
4-Nego Tenório – morava na Casa do Estudante e saíamos juntos para aquelas homéricas, e esporádicas, farras. Certo dia estávamos tomando chope naquele bar imenso do calçadão da Guararapes (eu no conhaque, ou cachaça) quando chegou uma dúzia de marujos de uma corveta que atracara no porto do Recife!-Tenório foi ao sanitário e de lá voltou com o casquete de um dos marinheiros, que tomara à força, e os seus parceiros se levantaram para brigar conosco. Foi o maior xerém para eu acalmar a tropa e conseguir devolver o quepe sem tapas, navalhas e murros!
Levamos Tenório para a pensão, sob homérico porre, mas propus ficarmos em vigília para ver se ele iria mesmo dormir. Não se passaram cinco minutos surge a cabeça do Nego, olha para um lado e para o outro, e toma o rumo do centro para continuar a farra. Pegamos a fera a pulso e o devolvemos à casa do estudante.
5-Odeval de Araújo Lyra – Major – Saíram as notas da prova final de estabilidade com Meyer Mesel e fomos dizer ao Major que ele tinha sido reprovado (mentira)!-Com aquela calma inabalável apenas perguntou: alguém me empresta uma apostila?
Companheiro de grandes lutas e amigo fiel, costumava eu ir a sua casa aos domingos onde tirava a barriga da miséria do bandeijão da Escola e ficávamos ouvindo o seu pai, Vavá, tocar piano e cantar. Tornamo-nos compadres!-Eu e Glorinha somos padrinhos de sua filha Débora. Soube, há pouco tempo, da dissolução de seu casamento com a Maria Helena.
6-Aula de Nilton Maia no 2º piso da Escola, em conjunto com a turma do 3.º Ano, aquela disputa para ficarmos juntos visando à conferência de resultados, mas os colegas do 3.º ano haviam se antecipado e não sobrara espaço. Voltara eu de Maceió trazendo as famosas bombas de fumaça (bombas puf) que soltei na escadaria e dentro da sala que virou o caos. Todos tossindo. Nilton Maia chegou com sua bata branca, olhou, expressou-se com aquele Ahnnn!-Aqui não haverá aula!-Mudemos de sala! Era o que queríamos e sentamos juntos: eu, Tetal, Quixabinha, Tenório, Odeval, Branquinho e outros.
7-Aula de Borba – praticamente em cima do refeitório. Mesmo esquema!-Lugares ocupados, novas bombas, o caos. O Borba quando chegou a fumaça se dissipara, mas estávamos juntos. Faltava o Tenório que fizera outra farra!- Quixabinha perguntou se podia dar um grito pelo Tenório que devia estar no restaurante, Permissão concedida gritou com aquela voz cavernosa: TENÓRO!-Nada! – TENÓRO!-Nada. Como me dava bem com o Borba, aliás, com quase todos os professores por ser um razoável aluno, o que gerou a ciumeira de alguns que me consideravam puxa-saco, o que abomino, perguntei ao Borba se poderia “dar um grito”. Permissão concedida lancei aquele aíiiii afrescalhado que ficou na história do curso.
EXORTAÇÃO A AURÉLIO DE MORAES DUARTE
*28/11/1938 - † 10/01/2006
Natural de Maceió, Alagoas, cursou o Colégio Baptista, estudou em Sergipe onde serviu ao Exército obtendo a patente de cabo, e concluiu o Científico no famoso Liceu Alagoano, instituição pública das mais respeitadas nos idos da década de 1960.
Brilhante aluno de matemática do Prof. Benedito de Morais – que preparava a moçada para os exames da Academia Militar das Agulhas Negras – sempre teve atração por aeronaves de todos os tipos e chegou a fazercurso de piloto no Aeroclube de Maceió.
Suas grandes paixões ao longo da vida, desde a juventude, tinham vínculos com aeronaves, com as grandes guerras, com a música sendo autodidata em gaita que tocava com maestria, além de cultura geral, tornando-se um repositório de histórias do Mundo, e de assuntos dos mais variados.
Tornou-se estudante de Engenharia dedicando-se à veia rodoviária demonstrando raras qualidades de desenhista a mão livre, com ênfase para aeronaves, e de desenho técnico cuja habilidade desenvolveu marcando linhas nos esquadros transparentes que além de demonstrarem a sua criatividade tornavam os desenhos impecáveis.
Chegava o Cabo Aurélio – assim conhecido em Maceió - na Escola de Engenharia de Pernambuco sobraçando, sempre, uma montanha de livros técnicos diversos que os mantinha nas mãos durante aqueles papos na porta da Escola, talcomo o Prof. Beira Baixa, personagem de Chico Anísio. Ao surgir um avião nos céus do Recife descrevia o modelo, ano de fabricação, velocidade de cruzeiro, potência de motores e capacidade de carga, além do nome do fabricante e ano de lançamento.
Durante as longas noites de estudos saíamos para lanchar no bar do Vieira, rua do Hospício, um desmunhecado que revirava os olhos ao vê-lo adentrar em companhia dos colegas. Certodia Aurélio faltou e o Vieira indagou: cadê ele? – Ele quem? – Aquele branquinho que vem com vocês! -Foi a conta para assim o apelidarmos!
Branquinho morava na Boa Vista, em um primeiro andar, e sentia-se incomodado por um casal de namorados que se esfregava na porta inferior em horas tardias, sob conversas e suspiros que o impediam de estudar. Contou-nos o problema e sugerimos esfriar aquele amor barulhento lançando um balde com água sobre o casal. Como havíamos saído de uma aula prática de geologia – durante a qual alguém trocara as pedras de caixas nominadas e o professor assistente ensinara tudo errado – Branquinho disse-nos que iria levar uma rocha ígnea, extrusiva (um riólito) para jogar na cabeça dos namorados!
Assumiu o cargo de engenheiro do DER-PE onde permaneceu durante um ano até receber o convite do Governo de Alagoas para voltar a sua terra natal, e exerceu a carreira de engenheiro do DER-AL, alçando, alguns anos mais tarde, o posto de Diretor Geral período em que se destacou uma determinação sua, altruística, descontentando lobistas que circundavam o Governador. O Estado deve a ele a mudança do traçado da AL 101 Norte para beneficiar as cidades litorâneas, hoje o maior pólo turístico de Alagoas envolvendo Japaratinga e Maragogi. Casou com Iolanda e formaram uma bela família com cinco filhos, três homens e duas mulheres.
Amava o Frevo como poucos, foi um dos fundadores do Pinto da Madrugada do qual tornou-se Comendador por merecimento.
O seu sepultamento em Maceió foi marcante para os seus amigos tendo o féretro descido à sepultura levando em seu interior um pequeno avião, uma pequena sombrinha representando o frevo que tanto amava, ao som da bandinha do Pinto da Madrugadaque tocava as músicas que mais gostava.
A gaita do Aurélio silenciou na terra, mas o Grande Arquiteto do Universo ora se embevece ao som de Realejo e Coração de Papel, suas músicas prediletas. O Vassourinhas é conseqüência da animação por lá!
(Engenheiro Marcos Carnaúba-Colega de turma da UFPE-1966)
: Por Marcos Carnaúba